domingo, 24 de junho de 2012

Dia que Antecede...

Iboru Iboia Ibosese,
primeiramente um bom domingão à todos, seguido de muita paz, amor, harmonia, saúde, fé, trabalho e muito axé...

Hoje domingo, dia 24 de Junho do ano de 2012, há exatos seis anos atrás, estávamos num sabadão, dentro dos preparativos prévios de Ifá, e para ser mais preciso, era exatamente o que chamamos de "DIA DA MONTAGEM DO QUARTO", aonde todos os Babalawos que estavam presentes, estavam trabalhando muito, minuciosamente nos pequenos e importantíssimos detalhes, e como já havia dito o meu Padrinho, era um dia de olhar para a parede (risos).

Aonde o Omofá fica o dia todo de penitência, sem poder ajudar em nada e nem a ninguém, e são tantas coisas e nervosismos que passam nas nossas cabeças, que sinceramente eu não lembro o que pensava, o que faziam, e só lembro das sacanagens que aprontavam, cada um que passava me falava uma coisa, uns colocavam um terror, outros desejavam todas as coisas boas, era um misto de loucuras, mas ao mesmo tempo um sonho que nunca mais eu esqueci, tanto que hoje, nas vésperas do meu aniversário de Ifá, ou Odú Ifá, como falamos, estava com um desejo desde cedo de vir aqui e mais uma vez relatar de forma carinhosa o quão carinho tenho por tudo que aconteceu, o que acontece e que de certo toda essa "TURMA LÁ DE CIMA" estão aprontando para que me aconteça no futuro, sejam boas, sejam complicadas, o importante é que meu destino tem um dono, e a esse dono, elevo toda a minha crença e fé.

Então como vinha narrando, é realmente um dia super corrido, cercado de muitas energias e tensões, e não só por parte de quem está para ser consagrado, mas como também para quem está dirigindo que no caso era o Pedrito, ao qual era o Olofista responsável, como também para o meu Padrinho Janda que estaria consagrando seu quinto Babalawo Afilhado, e acredito que também sofria uma pressão danada, o meu Ojugbona Pablito, o qual eu era o primeiro afilhado dele que estaria se consagrando como Babalawo, portanto, estaria tirando a virgindade dele espiritual, e este eu lembro que estava num tempo de serviços à nossa Nação, pois este estava com 18 anos de idade e estava servindo às Forças Armadas, portanto dividia todas as responsabilidades de me Ojugboniar, como com as escalas de serviço que tinha que cumprir, mas como isso não bastasse, ainda tinha a pressão do seu Padrinho e meu Avô Rafael Zamora, o qual tinha lhe dado Kuanardo há pouco tempo, para que este pudesse ser o meu Ojugbona, pois todos sabemos que, um Babalawo só pode iniciar outro ou ojugboniar, se este tiver nos seus juramentos e consagrações espirituais de Ifá, esse tal de Kuanardo, e ajudei bastante o meu Ojugbona, para que este pudesse seguir com todo o seu início, pois diferente de muitos que começam com uma dupla de Padrinhos e depois por milhares de motivos trocam, esse não foi o meu caso, comecei com o Janda, escolhi o Pablito no terceiro dia e foram esses que me levaram até a minha consagração.

Mas, problemas a parte, nervosismos também a coisa foi sendo levada, e graças à Orunla, Olofin, Sòngó e todas as energias do Orun, tive o apoio de todos, desde os mais velhos e novos Babalawos, como todas as Apetebis e até mesmo os Awofa kans que lá estavam e que tudo testemunharam e que muito nos ajudaram. Como também jamais poderia esquecer e deixar de citar, pois estávamos com o nosso Chumbinho pequenininho, recém iniciado em Ifá, pois ele se iniciou três meses depois que saiu da UTI Neonatal e a Adriana, minha Ayafá, foi fundamental, pois todas as preocupações e pesos que tivemos, ele fez a sua parte, como sempre fez, desde o meu tempo de Orisa, desde o momento que fui recolhido e ela lá ficou, sem mesmo não poder, pois ainda não era iniciada, mas deu suporte em tudo, procurou ajudar de todas as maneiras, e mesmo hoje, não estando nós dois mais casados em carne, o respeito continua mútuo e todo reconhecimento jamais será deixado de lado ou esquecido, e ela fez muito bem a sua parte.

Lembro de cada pessoa, lembro de cada dedicação, lembro de cada emoção que era colocada em cada parte, em cada olhar, em cada ajuda, e todos que lá estiveram, todos que lá participaram jamais serão esquecidos. Pois em cada momento existiu um nome, cada momento existiu um rosto, e cada um, pago ou não, foi lá e fez a sua parte por Ifá. Lembro quando fomos a Niterói buscar a Tia Leía OturaSá, que estava afastada da sua Terra natal, o lindo morrão do Vidigal, e pedi que ela nos ajudasse com toda a parte da cozinha, pois além dela ser muito parecida com a minha mãe, todo o carinho dela para com a minha pessoa e com a minha família, sempre foi algo muito bom. Lembro também, quando fomos a casa da Tia Beth IreteUntelú, para pedir que ela fizesse a roupa da minha saída e também todos os eketés que seriam presenteados à todos os Babalawos que participassem, e além de costurar lindamente, essa senhora também foi para o Ifá e deu todo o seu gás.

Lembro como jamais poderia esquecer, quando que a Dinha, ainda Iyawo quando conversávamos na sala, preocupados com tudo que iríamos comprar, e com todo o carinho que tínhamos um pelo outro, pedi que ela comprasse as minhas coisas que faltavam, pois a Neném não podia sair de casa, pois o cuidado com o Chumbinho ainda era muito, e eu estava adiantando tudo do trabalho, pois iria tirar as primeiras férias da minha vida, desde que havia entrado no bingo (risos) e esta Oshunsi carinhosamente aceitou e de imediato se pôs à ajudar, e quando dei o dinheiro para a mesma, senti uma coisa estranha na sala, mas fingi que não percebi e deixei quieto. Daí quando chega no dia seguinte, quem me liga do mercadão? Mãezona, senhoras e senhores, é isso mesmo, e todos ao lerem, deveriam estar se perguntando: "Mas, não era a Dinha quem estava com o dinheiro e encarregada de comprar o que faltava?"; sim, deveria ser ela mesmo, mas o clima que ficou chato na sala, foi devido ao ciumes da mãezona, pois quando pedi para a Dinha comprar, a mãezona como boa IreteYero que é, direcionou seus olhares fulminantes para a sua filha, e esta entendeu e se calou, mas foi só eu sair da casa do meu Padrinho e ir para a minha casa, que a mãezona soltou para a Dinha: "O afilhado é de quem? Não sou eu a Madrinha de Sòngó dele? Portanto, pode me passando o dinheiro, pois se alguém tem que comprar, esse alguém sou eu"; e de imediato a Dinha passou o dinheiro e só foi de companhia, pois comprar seria com ela, mas carregar peso seria com outro, ops, quer dizer "outra (risos)".

Lembro também daquele ao qual fiz uma gostosa homenagem há alguns dias atrás, pois este como sempre um bom amigo, irmão e camelo que sempre foi, disse que toda a parte de mercado seria com ele, e junto com o Bruninho, nos levou ao CEASA para que pudéssemos economizar um pouco, dentro do muito que gastamos naquela época, e falo que gastamos, pois o meu irmão me ajudou muito, e a única coisa que me pediu, foi que quando chegasse o momento, eu saberia a hora de ajudá-lo, e essa hora realmente existiu, e dentre todas as partes de honraria ao espírito do mesmo, anos depois, como sacerdote, pude ajudá-lo, ito ibán esú. Mas voltando ao assunto, esse alguém foi o Egídio que encarou um carrinho pesado com todas as nossas compras, não deixou a gente encostar em nada, e chegamos no CEASA cedo e enchemos a Pick-up do meu irmão na época, e realmente foi uma economia muito gostosa, além da ajuda, melhor ainda desse safado irmão.

Foi também a primeira vez que vi Pedrito super atento em tudo, não que ele não fosse, pois este apesar de muito responsável, todos sabemos que ele é de tempo e tem os seus dias, mas além de tudo que poderia cair sob as suas costas, tinha o peso de ser o primeiro Ifá que este iria dirigir sozinho, pois todos os demais ocorridos sempre teve a intervenção e ajuda de alguém, e dessa vez, ele pode estar fazendo tudo de acordo com a Rama do seu Avô carnal e Padrinho Lalo Osalofobeyo e tudo mais que este se dedicava e aprendia ao longo dos seus vinte e poucos anos de Ifá. Mas direção essa que não foi muito longe, pois além de Pedrito, meu Babango apareceu para poder prestigiar, ajudar e dividir a direção com o mesmo.

Lembro que tudo começou e as coisas foram sendo encaminhadas, e não parava de chegar Babalawo, Apetebis e Awofa kans, e tirando o Sítio depois, nunca mais vi algo parecido e harmonioso, nunca mais, tal união como houve na casa do meu Padrinho, aonde exatos 21 Babalawos participaram da minha cerimônia e mais um número incalculável dos demais cargos dentro de Ifá.

Foi aí que depois de todo o quarto montado, de tudo feito e preparado, que me levaram para dentro do quarto pessoal do meu Padrinho, aonde fiquei jogado no cantinho da cama do mesmo, misturando o chão frio com os pelos do lindo cachorro dele, que era o Custer, um lindo Pastor Canadense, mas que soltava um pelo do cão (risos), e de lá, não mais me tiraram, e foi quando de repente, dentro de toda aquela solidão, a mãezona abriu a porta junto com a Neném, Chumbinho e o Bruninho, para que pudessem se despedir do então, pré consagrado "Robson Abreu" e darem as boas vindas ao que iria nascer e ser consagrado, que nada e nem ninguém sabia o que viria. Foi quando tiramos essa foto, pois elas me deram um beijo e se despediram e o meu irmão ficou ao meu lado conversando comigo e passando todo o axé, e meu Chumbinho ficou no meu colinho, deitadinho no meu peito, como ele até hoje gosta de fazer, e lá registramos a "DESPEDIDA".

Dali sinceramente, eu não posso mais narrar, mesmo que eu corra por fora, como corri em toda a narração dos fatos acontecidos, pois quem passou sabe o que rola, e os que ainda não passaram, um dia verão, e não será pelas minhas escritas ou falas, que os secretos serão revelados. Mas um bom carinho, um bom amor e toda a fé e alegria que sentia, não existe energia que possa dizer que não podia revelar ou expressar. Pois acredito que tenha comentado algo com alguns que próximos sempre estiveram, mas se a coisa aqui é mostrar para tudo e todos o quão de gostoso, sério e de fundamentos tem a nossa Cultura Afro Cubana Brasileira de Ifá, aqui venho relatar para que tudo corra direitinho e que todos ainda alimentem as suas fés e crenças, pois ainda existe Ifá com amor, fé e seriedade. E são coisas assim que primamos na nossa família.

De lá para cá, muita coisa aconteceu, muita coisa acontece e muito mais outras ainda virão... Tive coisas que de certo me faria desistir de tudo, largar tudo para trás, desde as decepções mais complexas, dos pagos que tive com mal tratos, quando nunca quis enganar e sacanear ninguém, mas como Oro me disse: "UM BEM COM MAL SE PAGA"; portanto, se ainda continuo fazendo a coisa boa, sei que tenho um preço com aqueles que me procuram somente com o interesse de levarem uma vantagem e infelizmente, são muitos, mas seguirei fazendo a minha parte como sempre fiz, com todo amor, orgulho e honestidade... E sabendo que o credo que tenho que levar, dar e ter, são para as energias que me rodeiam e me protegem, e são poucos aqui da Terra.

Tive a perca de um grande emprego, tive a perda da minha mãe, o desaparecimento do meu irmão, etc etc etc... mas para que chorar? para que reclamar? para que desistir? Se sou um guerreiro, e como disse nas postagens anteriores: "SENÃO VENÇO OS MEUS DESAFIOS, SOU VENCIDO PELOS MEUS DESAFETOS". E por isso segui, por isso sigo e por isso e por esperanças mais, seguirei fazendo muito bem a minha parte e cada vez mais me dedicando e sendo aquele bom prego a ser muito bem martelado.

Dentre todas essas emoções, estou próximo de completar meus SEIS ANOS dentro da Cultura como Sacerdote da mesma, e pela primeira vez, como há anos venho tentando, graças à ajuda de todas as ENERGIAS e do meu empenho e reconhecimento dentro do meu PROFISSIONAL, amanhã estarei podendo realizar um sonho que sempre estudei, que vi alguns vídeos na internet aonde muitos faziam, mas que ainda não vi fazerem aqui no nosso País, e como amo PIONEIRISMO, vou dar esse chute inicial e comemorar o dia de Ifá, como DIA DE CRIOULO e como os nossos ANCESTRAIS ESCRAVOS faziam, aonde depois de um dia de muito duro trabalho, nas suas festas, nos seus aniversários de Santo e de Ifá, tocavam para os seus, fossem esses os Orishas que fossem como também para ÒRÚNMÌLÀ BÀBÁ IFÁ, e nesse segunda sem lei irei dar o TOQUE ou TAMBOR DE FUNDAMENTO para IFÁ.

E já passei mensagens para muitos, liguei para alguns outros, recebi algumas ligações e esperei pelo interesse de meus afilhados, mas foram poucos que lembraram, foram pouquíssimos que se interessaram e menos ainda, os que me ligaram ou fizeram algum tipo de contato dizendo que amanhã aqui estariam. Vindo ou não, farei o que sempre faço:
"IREI CUMPRIR COM QUEM TENHO QUE CUMPRIR QUE É IFÁ, POIS ESSES JAMAIS DEIXOU DE CUMPRIR COMIGO E COM TODOS OS QUE O BUSCARAM, E NO MAIS, ITO IBÁN ESÚ, SERÁ A MELHOR RESPOSTA".

Porém mais uma vez conto com o apoio e energia de todos e enquanto vida e força tiver, irei lutar e lutar muito pela minha religião e por todos aqueles que seriamente buscam Ifá, e de certo, o único arrependimento que irei levar comigo é de não ter mais dias, anos e vida para poder cumprir e lutar mais. Porém para os que ficam, tenho certeza que deixarei o mesmo vazio que o mesmo OGUNDA KETE deixou, quando ao desencarnar deixou muitos a deriva, e até os dias de hoje, ainda há quem sinta muito a sua falta, e pelo trabalho que aqui faço, e continuarei fazendo, de certo muitos sentirão. Sentindo ou não, o dever das tarefas sempre muito bem e devidamente cumprido estarão, pois isso é: "IFÁ".

Iboru Iboia Ibosese,

ROBSON ABREU
UM BABALAWO AS VÉSPERAS DE SEU GRANDE DIA E COM TODA A FELICIDADE E ANSIEDADE DEVIDA, FAZENDO SEMPRE ALGO PELA VIDA EM VIDA, E AGRADECENDO MUITO À IFÁ E PEDINDO PERDÃO A TUDO E A TODOS, ASÈ.

4 comentários:

  1. Ana Clara de França Tadim oló oshun iya bemi24 de junho de 2012 às 21:10

    Boa noite !!!!

    Bom vai aki os meus parabéns antecipado

    Parabéns pelo dia de hj, desejo que orunmila esteja sempre com vc, lhe abençoando e iluminado o seu caminho, pois o caminho e longo e às vezes ardo, mas com orunmila do lado as coisas ficam um pouco, mas fácil

    Desejo toda a felicidade nesse dia pois e , mas do que especial és único


    Beijos de sua afilhada Ana Clara de França Tadim oló oshun iya bemi

    Bjs

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  2. orisabeth ogundabede24 de junho de 2012 às 21:16

    iboru iboia ibosese desejo muito ashé amanhã no tambor....se fosse mais perto vontade é que não falta de estar aí...abraços a todos e excelente trabalho...como se fala vou pegar um jatinho e parar aí em pensamento mesmo...abraços

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  3. junior awofa kan odishe29 de junho de 2012 às 09:23

    Robinho, me emociono com algumas coisas e acabei de ler esse e mail que você me enviou, de certa maneira tem uma parte da sua vida neste escrito. É bem evidente esta sua saudade do seu irmão, eu já sabia deste descalabro que foi a perda dele para você, não sabia da perda da sua mãe e acredito que quase chorei, fiquei aqui com os olhos cheios de lágrimas, meio esquisito, entristecido, porque também tive meu irmão assassinado, também perdi minha mãe, que diga-se de passagem sempre foi minha maior preciosidade, e querendo ou não, as estórias acabam sendo um tanto que parecidas. Em dado momento da minha vida também perdi um bom emprego e sei lá tenho uma certa dificuldade para conseguir caminhar e me firmar profissionalmente mas enfim, essa é a vida,de todos os e mails que você sempre me envia, esse eu gostei muito, vejo o quão vitorioso você é, e apesar dos pesares com tudo isso e acredito que um pouco mais, você esta ai negão, seguindo firme e sem desistir, que é o que também me emocionou, entretanto também saboreei a parte maravilhosa do e mail, fiquei aqui em cólicas imaginando como é o dia D, legal mesmo< quem sabe um dia né. Fico feliz de ver que você meu irmão, apesar da tristeza que provavelmente vez por outra vem lhe assolar,consegue se reinventar. Passou por dissabores, viveu obviamente, mesmo sem querer algumas poucas e boas e com total certeza e tão nítido e transparente como água, vejo em você um sujeito vencedor. O e mail é atrasado mais é do fundo da alma, verbalizei na Segunda Feira e aqui novamente, PARABÉNS pela importância do dia, fico com a sensação de dever cumprido, pois apesar de ter chegado as tantas da noite e não participar do cerimonial, lá eu fui parceiro, e de certa forma.....participei. abraços, odishé, Iboru

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